Pensei, por muito tempo, como abriria as minhas memórias para contar a nossa história. Uma crônica é pouco para derramar o muito que vivemos. Tudo começou como qualquer uma outra, das chamadas histórias de amor. Era uma noite de setembro, lá no Sertão, onde a Fé está na devoção do povo. Cada cidade de lá recebe um Santo Padroeiro do lugar, assim, no período dedicado ao padroeiro local, a cidade se transforma numa grande romaria. É aquela festa. Todos da comunidade se envolvem com alguma coisa para ajudar. A praça diante da Matriz, em que acontecem as celebrações fica superlotada de pessoas das mais variadas localidades, advindos das cidades circunvizinhas, já ficam na perspectiva das celebrações, muitos por devoção, outros, por diversão, não importa, vinham participar de tudo , dos mais velhos aos mais novos, para estes, era o caminho para encontrar uma namorada, desfilar com aquela garota que passara quase um ano “azarando-a”, na escola ou nas ruas quando se encontravam. Nossa, é uma verdadeira fantasia tudo aquilo. Além disso, ainda têm parques de diversão, shows, jogos e tiro ao alvo. As pessoas, sobretudo os jovens ficam em busca de algo, que às vezes nem eles sabem o quê. Naquela noite, dia seis de setembro de 1984, eu estava entediada, depois de discutir com um gaiato casado que veio incomodar-me, com aquelas cantadas baratas. Para o azar dele e minha sorte, as pessoas com as quais eu tinha ido à festa na praça, o conheciam, então, me alertaram de quem se tratava. Depois do ocorrido, dirijo-me ao outro lado da praça, bem distante daquele cara inconveniente. Depois de um bom tempo, perto das dez horas da noite, estávamos minha amiga e eu sentadas no banquinho da praça quando o avistei. Ele veio em busca de um banheiro público que ficava bem perto de onde eu me encontrava, impossível que não me visse e viu. Nunca tinha acreditado numa conexão tão imediata. Deu uma olhada para mim, não sei o que ele sentiu, mas o meu coração ficou saindo pela boca. Juro que pensei que fosse infarto do miocárdio. Que cara lindo! Disse para mim mesma. Mas, pouco tempo depois, acompanhando-o com o olhar, ele senta-se e uma jovem senta em sobre os joelhos dele. Assim que vi aquilo, fiquei parada, como se fosse uma estátua, olhando para ele como se estivesse enfeitiçada. Então, ele me viu mesmo, dessa vez, quase desisti de continuar olhando-o, de tanta vergonha que eu estava. Pensei, mas que azar, o primeiro cara, nessa noite, que me interessou, está acompanhado. Saí dali, meio que correndo, se quer expliquei o motivo a minha amiga, porém, agradeci a Deus por ela não ter me perguntado. Ao chegar a um local distante dali. Sentei-me numa das cadeiras perto de um barraco onde vendia sorvete. Estava para fazer o pedido de um, quando senti uma mão no meu ombro, pesada de voz macia me perguntou:
- Oi, gatinha, aceita um sorvete? Ou um refrigerante ou qualquer outra coisa, pode pedir que eu pago. Eu, meio que congelada, toda tremendo de emoção, virei-me e falei:
- Obrigada, mas não aceito nada de estranho- Disse isso mirando nos olhos dele. sabe que percebi que eram claros e de um brilho bem profundos. Então, com aquele ar de uma pessoa bem charmosa e comunicativa falou:
- Aquela gente que está contigo me conhece. Pode perguntar a, por exemplo, Joaquim o mais velho. Nesse momento, minha amiga ficou pertinho de mim e disse, baixinho:
- Ele é uma boa pessoa, sim, eu o conheço. Só é namorador!!! Namora a todas que encontrar, mas pode ser que com você seja diferente. Não quis arriscar, pedi desculpas e sai dali apressadamente. Peguei a chave da casa com minha amiga, chamei um táxi e fui embora.
No outro dia, era sete de setembro, feriado, mas acordei bem cedo, ajudei nas atividades da casa e fui para uma ruazinha estreita, na qual nós costumávamos jogar vôlei. Quando estávamos concentrados no jogo, alguém para o carro e diz, atrevidamente: - Agora o vôlei do Brasil vai. Disse isso, olhando diretamente em minha direção, só por eu ser baixinha... Realmente era o começo de tudo... Daquele que poderia ser um amor que só se ver em novelas... Continua